segunda-feira, 6 de novembro de 2023

Poder de compra em Fundos de Papel

Os rendimentos de fundos de recebíveis não são atualizados pela inflação, portanto perdem poder de compra ao longo dos anos, caso você não reinvista parte do que recebe. Este é um ponto de atenção muito importante para quem investe em fundos de papel, principalmente para aqueles que conseguirem a independência financeira cedo e se sustentarem apenas com o rendimento de fundos imobiliários, ações e renda fixa.

Primeira coisa, este não é um defeito dos fundos de papel, mas uma característica dessa classe de ativos, então cabe a você compreender a questão e saber como contorna-la.

Os fundos de papel perdem poder de compra ao longo dos anos porque nos rendimentos estão inclusos os juros (prêmio) e a correção monetária (inflação), e, portanto, a distribuição dessa inflação faz com que os rendimentos distribuídos pelo fundo não cresçam com o tempo.

Observe na imagem abaixo como o rendimento de VRTA11, um fundo de papel bem antigo, não evoluiu ao longo dos anos (as altas e baixas no rendimento observadas em alguns períodos são consequência das flutuações da inflação). Reforço, esse comportamento é o esperado para o rendimento de um fundo de papel.

 

Fonte: https://www.fundsexplorer.com.br/funds/vrta11

No gráfico acima temos que o rendimento no início de 2023 é praticamente o mesmo observado no começo de 2017: próximo de R$1,00/cota. Logo um investidor com 100 cotas de VRTA11 em 2017 receberia aproximadamente R$98,00 e se nos 6 anos seguintes gastasse tudo o que recebesse dessas 100 cotas, estaria em 2023 recebendo R$95,00. E não precisa ser nenhum gênio para saber que 98 reais em 2017 compram muito mais coisas do que 95 reais em 2023.

No entanto, caso tivesse reinvestido tudo o que recebeu em rendimentos teria muito mais do que 100 cotas, e sua renda mensal iria subir mesmo não colocando “dinheiro novo”. Utilizando o simulador de juros compostos do ClubeFII de maio/2017 a abril/2023 e considerando as mesmas 100 cotas do exemplo anterior, mas com o reinvestimento em novas cotas de VRTA11, teríamos um total de 166 cotas de VRTA11 ao final do período.

Fonte: https://www.clubefii.com.br/fiis/vrta11#juros_compostos

 

Quanto reinvestir na fase de acumulação

Uma dúvida que aparece toda vez que esse assunto é discutido é qual a porcentagem do rendimento dos fundos de papel deve ser reinvestida para não se perder poder de compra. A minha opinião é que o investidor deve reinvestir 100% do que recebe em rendimentos.

Não vejo o mínimo sentido o investidor na fase de acumulação gastar parte do que recebe em rendimentos, o certo é reinvestir 100% do que se recebe via proventos. Somar o que você recebe via renda passiva com o que recebe de renda ativa é uma ilusão, pois um investidor deve ter como objetivo substituir a renda ativa pela passiva. Talvez faça um pouco de sentido caso a pessoa goste do trabalho que faz e queira seguir trabalhando mesmo após a renda passiva superar a renda ativa.

Já presenciei muito investidor novato tentando calcular quanto do rendimento foi proveniente de correção monetária para reinvestir essa parcela, se você é um desses, repense sua forma de ver os investimentos e pare de perder tempo com esse tipo de coisa nesse momento, caso seja jovem.

Quanto reinvestir na fase de fruição (para 3ª idade)

Se você já está na terceira idade e fez as contas certinhas, o certo é você não apenas consumir todo o rendimento, como também parte do seu patrimônio. O quanto consumir do patrimônio é outro assunto complexo e que vai depender muito de com quantos anos parou de trabalhar.

Esse é um tema muito delicado e caso não seja um investidor avançado, o melhor é procurar ajuda profissional, contudo, mesmo tendo ajuda profissional é bom se inteirar sobre o assunto e participar das decisões. Mas não fique sofrendo tanto com isso caso seja jovem ou adulto, isso é problema para o final da fase de acumulação, muito provavelmente você terá mais anos ou décadas para ganhar experiência em investimentos. Até lá foque em reinvestir 100% e reinvestir bem.

Quanto reinvestir na fase de fruição (para jovens aposentados)

A situação fica mais complexa quando você atinge a liberdade financeira jovem (até uns 50) e opta por parar de trabalhar. Como sua fase de fruição irá durar cerca de 3 a 5 décadas, terá que tomar muito cuidado com a corrosão da sua renda mensal pela inflação, por isso acho prudente reinvestir a parcela de correção monetária por no mínimo mais uma década, esse número pode aumentar caso ainda tenha filhos ou outros dependentes sustentados por você.

Não perca muito tempo calculando o montante a ser reinvestido, apenas subtraia a inflação de 2 meses atrás pelo rendimento do mês atual, por exemplo, se o DY do mês de março foi 1% e o IPCA de janeiro foi 0,40%, consuma 0,60% e reinvista 0,40%. Caso prefira, utilize a inflação do mês corrente, o mais importante é reinvestir a inflação.

Caso queira simplificar ainda mais, consuma apenas o prêmio da taxa média da sua carteira de fundos de papel, por exemplo, se você tem 1 milhão de reais em fundos de papel com taxa média de IPCA + 7%, gaste R$5.800/mês (1.000.000*0,08/12) do que receber dessa carteira de fundos de papel e reinvista o restante.

Para saber qual a taxa média da sua carteira de fundos de papel utilize a minha planilha para fundos de papel:

https://docs.google.com/spreadsheets/u/1/d/1bdVMn-157egULDMexsANX05jUvhEirkzL50yYhcqdiE/edit#gid=0

 

Fonte: Arquivo pessoal

Ressalto, procure ajuda profissional, ainda tenho 14 anos de acumulação de patrimônio, logo não fico me preocupando tanto assim com essa parte da vida de um investidor.

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