Fundos envolvidos (posição relevante): Fundos da Hectare, Devant e BCRI11
Breve descrição: CRIs emitidos pela Gramado Parks, uma das mais tradicionais do ramo turístico no Rio Grande do Sul, para expandir seus negócios tanto na sua praça principal, Gramado, como em outros estados do país.
O que
aconteceu:
Antes de começar, o mais importante nesse caso é acompanhar se as garantias estão funcionando plenamente ou o ativismo judiciário brasileiro está mais uma vez contribuindo para a insegurança jurídica do país. E tenham em mente que esse não é um caso muito didático, pois é muito peculiar, já que envolve conflitos de interesses que só perdem para o caso do CRI Hope.
Diferente de outros casos dessa série de CRIs que deram problema, a inadimplência da Gramado Parks está sendo muito noticiada por sites e influenciadores, portanto, serei breve nas descrições e indicarei vídeos ou notícias para que entendam melhor o acontecido.
O grupo Gramado Parks sempre trouxe diversas polêmicas, principalmente quando o fundo HCTR11 adquiriu com o dinheiro de uma das emissões participação societária da GPK, através do fundo Serra Verde. Na época muitas pessoas ficaram revoltadas porque a partir de então o fundo passaria a atuar nas duas pontas (emprestando dinheiro para si mesmo), além de que se suspeitava que a operações tenha sido feito para socorrer a empresa de Multipropriedade.
No início de março (06/03/2023) tivemos a notícia do Default no CRI Circuito de Compras, que foi resolvido rapidamente, mas foi um sinal para o mercado de que as coisas não iam bem e novos defaults estavam por vir, tanto é que a cotação dos fundos High Yield com posição em CRIs de Multipropriedade caíram forte, “contaminando” até mesmo fundos de papel conservadores.
E a confirmação do calote da GPK não demorou a vir, no dia 27/03/2023 chegou a mídia a informação de que a Gramado Parks havia conseguido na justiça a suspensão do repasse dos seus recebíveis para os CRIs pelo período de 60 dias. A companhia alega que com a crise o fluxo de recebíveis reduziu drasticamente, não havendo então o excedente que vinha para a empresa, que passou então a ter dificuldade de pagar colaboradores e fornecedores.
Essa notícia foi uma afronta gigantesca contra uma
das principais garantias dos CRIs Pulverizados, a Cessão de Recebíveis, algo
que poderia abrir precedentes e colocar em cheque os fundos de papel
pulverizados.
Fonte: https://fnet.bmfbovespa.com.br/fnet/publico/exibirDocumento?id=447713
O Fato Relevante do dia 29/03/2023, que foi emitido
pela administradora Vórtx, ao invés das gestoras envolvidas, foi somente uma
formalização do que o mercado já sabia, a temporada de Defaults havia começado.
Fonte: https://fnet.bmfbovespa.com.br/fnet/publico/exibirDocumento?id=435304
O grupo Gramado Parks dar default nos seus CRIs não foi novidade para investidores mais atentos, o que realmente surpreendeu foi esse calote ter vindo de forma tão agressiva, já que se imaginava que os sócios majoritários da Gramado Parks tivessem relações muito estreitas com os gestores da Hectare e R Cap. Permitindo que eles conseguissem uma renegociação da dívida que a beneficiasse, e, por consequência, prejudicar os cotistas. Essa negociação só não deve ter acontecido porque os fundos estavam muito concentrados em CRIs da GPK e a distribuição de rendimentos seria muito prejudicada.
Algo que chamou muito a atenção dos investidores em fóruns e grupos de discussão foi a discrepância de realidade entre o Relatório Gerencial de DEVA11 de fevereiro, que trazia a informação de que todos os CRIs estavam inadimplentes, e o relatório do mês seguinte, que contava com diversos ativos inadimplentes ou em renegociação. Demonstrando como transparência não é muito o forte das gestoras envolvidas. E eles não tinham como alegar desconhecimento da situação da empresa, já que é de esperar que por ter posição acionária na companhia teriam acesso aos problemas de capital de giro.
No dia 03/04/2023 temos a notícia de que o grupo
Gramado Parks havia desistido da suspensão de pagamentos da dívida, isso
aconteceu porque o fundo Serra Verde, que é acionista majoritário e é gerido
pela R Cap (que faz parte do mesmo grupo da Hectare e Devant) decidiu pela
troca dos diretores da GPK. Caso queira entender melhor a relação entre o Grupo
RTSC e a família Caliari recomendo que vejam o vídeo produzido pelo
influenciador Nod:
Como esperado, em meados de abril, a justiça aceita
o pedido de recuperação judicial da Gramado Parks. O que não era esperado pela
comunidade de fundos imobiliários foi a execução das dívidas por parte das
gestoras, já que os fundos HCTR11 e TORD11 possuem participação no equity da
companhia, ou seja, o fundo HCTR11, na figura de credor, está executando
dívidas de um dos ativos em seu portfólio, o fundo Serra Verde.
https://www.hoteliernews.com.br/gramado-parks-credores-aprovam-execucao-de-divida/
Fonte: https://fnet.bmfbovespa.com.br/fnet/publico/exibirDocumento?id=466945
Outras notícias de maio/2023:
Gramado Parks sendo marcada a zero
Cessão de Recebíveis sendo garantida pelo
judiciário
No momento em que escrevo os CRIs seguem inadimplentes e as gestoras tem entrado em contato com o devedor para analisar propostas de renegociação da dívida.
Como mencionado no início, esse é um caso muito
particular, mas podemos tirar alguns aprendizados:
- Fuja de conflitos de interesses;
- Alienação de cotas de SPEs e alienação de imóveis
são coisas bem diferentes, no primeiro caso a SPE pode estar muito endividada;
- Só conhecemos a índole do devedor quando a
situação aperta;
- Se algo cheira ruim, provavelmente vai dar ruim
no futuro;
- Se o gestor se esquiva demais de aparecer na
mídia é porque há algo de errado.
Perspectivas
futuras: Com uma dívida de quase 1 bilhão de reais é difícil acreditar que
a Gramado Parks vá se recuperar no curto ou médio prazo. No entanto, um dos
membros da família Caliari alega que a empresa não que dar calote e que possui
4 bilhões em ativos para quitar a dívida.
Um ponto positivo nessa história é que a cidade de Gramado possui um potencial turístico enorme, entretanto, existe a possibilidade de desgaste da forma de comercialização da empresa, a venda de frações utilizando marketing agressivo, que é alvo de muitas críticas na internet.
Enfim, apesar dos desentendimentos acredito que em breve irá sair um acordo de renegociação da dívida, já que não levo a sério essa história de execução das garantias.
Identificação do CRI: 20H0225976, 20H0225980, 20H0225977, 20H0225981, 20H0225978, 20H0225982, 20H0225979, 20H0225983...
Links:
https://fnet.bmfbovespa.com.br/fnet/publico/exibirDocumento?id=435304
https://fnet.bmfbovespa.com.br/fnet/publico/exibirDocumento?id=456606
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